A investigação arqueológica em
Angola remonta ao século XIX, com as primeiras publicações em 1890 (Severo,
1890).
No domínio da arte rupestre, a
descoberta de novas estações e o emprego de novas metodologias de registo, de
análise e datação, inserem-se, no presente projecto, numa perspectiva que
privilegia não apenas uma documentação exaustiva dos sítios mas, também, a
compreensão do seu contexto cultural e paisagístico.
O Projecto Ebo foi, nestes termos,
o primeiro grande estudo efectuado para a região, reunindo pesquisadores de
diversas especialidades, embora tendo a arte rupestre como núcleo, orientado
para a compreensão da dinâmica social e cultural da região, associada às
mudanças da paisagem.
Os objectivos específicos foram
estruturados segundo o objectivo geral de retomar a pesquisa arqueológica em
Angola em cooperação com as entidades nacionais competentes.
Para o Ebo a documentação
anteriormente existente era quase nula, não existindo qualquer estudo
monográfico para a região, pesem embora as menções de Carlos Ervedosa no seu
monumental trabalho sobre a arqueologia angolana (Ervedosa 1980).
Assim, o projecto foi orientado
para estudar uma região brevemente referenciada nos anos 1970, mas nunca estudada
em pormenor – a região do Ebo, um município da Província do Kwanza Sul, em
Angola – assumindo como bases materiais o conjunto de abrigos com pinturas
rupestres já noticiados e como métodos o seu registo exaustivo (em fotografia e
desenho), o seu processamento laboratorial com identificação de motivos, temas
e cenas, e a sua contextualização topográfica, geomorfológica, paisagística e
antropológica. Os resultados que se foram obtendo foram objecto de disseminação
académica (através de artigos científicos) e social (contribuindo para a
formação de uma consciência crítica sobre a profundidade histórica dos lugares
e sobre a importância da preservação patrimonial).
O projecto foi cumprido no plano
estratégico. No entanto, tratando-se de uma vasta área e tendo sido esta muito
afectada durante o período da guerra, existem ainda hoje áreas interditas, por
suspeita de minas, pelo que não foi possível visitar todos os locais em relação
aos quais temos referências dos habitantes locais como possuindo arte rupestre.
Os trabalhos de campo foram divididos em três etapas: a 1ª campanha decorreu
Maio de 2011, a 2ª em Maio e Junho de 2012 e a 3ª em Junho e Julho de 2013.
Breve História da Investigação
Arqueológica no Ebo
Carlos Ervedosa e Santos Júnior
desenvolveram, em Angola, vários trabalhos em conjunto. O Ebo foi um dos locais
que visitaram, fazendo sumárias anotações sobre os abrigos da Quingumba (o
Cavundi Quizólo e o Quissanga Cuanga Quissanga), da Cumbira, do Caiombo e de
Dalambiri, referenciados por Santos Júnior em poucas linhas no seu trabalho
“Arte Rupestre de Angola” (1974), e de forma mais pormenorizada em algumas
páginas da “Arqueologia Angolana” (1980) de Ervedosa. Este autor descreve
resumidamente as pinturas dos abrigos visitados, indicando a existência de
materiais de superfície (fragmentos de cerâmica, líticos e escórias de ferro).
Não termina a descrição sem
manifestar o desejo de voltar ao Ebo, reconhecendo que é uma zona que merece um
estudo exaustivo. Esta visita aconteceu em 1972. Entretanto, a guerra forçou a
ida de Ervedosa para Portugal, impedindo-o de cumprir aquela vontade.
É ainda naquelas páginas escritas
por Ervedosa que ficamos a saber que o Arquitecto Fernando Batalha, à época
responsável pelos Monumentos em Angola, após ter conhecimento dos abrigos com
pinturas do Ebo, decidiu fazer uma escavação num deles, no Abrigo de Dalambiri,
em finais 1971/início de 1972. O espólio resultante dessa escavação terá ido
para a fortaleza de Massangano (Ervedosa, 1980), mas perdeu-se-lhe o rasto.
Somando a isto o facto de Fernando Batalha nunca ter publicado algo sobre este
trabalho, perdeu-se toda a informação dessa intervenção.
Foi, no entanto, pela mão daquele
mesmo arquitecto que surgiu a apresentação da proposta, em Julho de 1974, para
classificar o Abrigo de Dalambiri. A proposta foi aceite e aprovada. Dalambiri
é monumento nacional pelo decreto nº110 – Boletim Oficial nº256 de 4 de
Novembro de 1974. Este abrigo é o maior da região, com maior número de figuras
(superior a 1 milhar).
As referências efectuadas por
Ervedosa sobre o enorme potencial arqueológico aliado à inexistência de
qualquer estudo sobre a região estão na génese do “Projecto Ebo” (Martins,
2008; Oosterbeek & Martins, 2011).
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