segunda-feira, 30 de setembro de 2013

ARTE RUPESTRE

Actualmente estão identificados 15 sítios com pinturas rupestres na região do Ebo. Desses, a equipa do “Projecto Ebo” fez o registo de 9 e estão a ser estudados em pormenor 3 abrigos com pinturas rupestres (os primeiros a serem registados no âmbito deste projecto) – Dalambiri, Cumbira e Caiombo.


Localização dos sítios com arte rupestre – a azul os sítios registados;
 a vermelho os sítios identificados, mas ainda não registados.Fonte: Folha nº II – Sumbe. Instituto de Geodesia e Cartografia de Angola.


DALAMBIRI ou NDALAMBIRI
A aldeia de Dalambiri fica a cerca de 11 Km a Norte/Nordeste do Centro do Ebo.
O Abrigo situado a uma altitude de 1348 m, num grande inselberg granítico está orientado para Oeste.
Existem quatro níveis de sobreposições de pinturas: a negro muito diluídas, algumas a vermelho tijolo, em menor número e várias tonalidades de branco (do mais amarelado ao branco "puro", correspondendo a dois momentos diferentes), por vezes, combinadas com outras em negro e laranja.
Representados existem antropomorfos com morfologia diversa, geralmente associados entre si ou com zoomorfos.
Os zoomorfos são múltiplos e diversos, muitas vezes sendo possível identificar a espécie - antílopes, elefantes, jacarés, lagartos, cobras, aves.
Surgem ainda vários geométricos - figurações reticuladas, rectangulares, quadrangulares, triangulares - e outras diversas (figurações indefinidas), a par de duas inscrições recentes.
De salientar a enorme diversidade de representações de tipóias e de armas de fogo, por norma associadas a antropomorfos.
As pinturas apresentam apresentam tamanhos diversos que vão desde poucos centímetros até mais de 1m de comprimento e neste abrigo ultrapassam o milhar de representações.

Aldeia de Dalambiri.


Percurso até ao inselberg de Dalambiri.


Subida do Inselberg até ao abrigo.

Entrada do abrigo.


Algumas das pinturas rupestres.


Algumas das pinturas rupestres.

Algumas das pinturas rupestres de Dalambiri.


CUMBIRA
O abrigo apresenta três níveis de sobreposições com pinturas mais antigas a negro - zoomorfos (prováveis palancas) (painel1), antropomorfos esquemáticos e figuras geométricas muito simples (painéis 3 e 4). Existe apenas um traço em vermelho escuro e muito patinado no painel 4, que poderá corresponder a um momento mais remoto, mas em relação ao qual não se consegue identificar mais pinturas.
O momento seguinte poderá corresponder a representações de zoomorfos ou antropomorfos, pintados a branco, acompanhados de zoomorfos mais esquemáticos (Painel 1 e 4).
A fase seguinte apresenta figuras brancas de antropomorfos, alguns com armas e machados em forma de meia-lua, zoomorfos de perfil (elefantes, antílopes, lagartos), por vezes em cenas de caça e transporte e, ainda, representações em negro de antropomorfos carregando tipóias (Painéis 1 e 2).
Na parte inferior, junto ao solo do abrigo, no painel 1, identificam-se pinturas a branco "puro", deixando antever pequenos círculos e outras formas indeterminadas porque escondidas pelos sedimentos que, ano após ano, se acumulam no abrigo, trazidos pelas águas que o invadem no período das chuvas. 
Neste abrigo há cerca de uma centena de figuras.

O abrigo da Cumbira visto a partir da aldeia.

Forno da aldeia da Cumbira.

O abrigo e parte do percurso entre ele e a aldeia.

Algumas das pinturas rupestres da Cumbira.

Algumas das pinturas rupestres da Cumbira.

Algumas das pinturas rupestres da Cumbira.


CAIOMBO
O Bairro situa-se a cerca de 7,5 Km a Norte/Nordeste do Ebo.  
O abrigo situa-se a 1379m, num inselberg granítico, voltado a Este, composto por duas exsurgências geminadas de formato circular, completamente rochosas. À direita destas cavidades há uma pala com cerca de 11,5 m de comprimento com depósitos sedimentares.
Nestas cavidades circulares podem identificar-se algumas figurações de antropomorfos e zoomorfos esquemáticos a negro, muito desvanecidas e sobre as quais estão sobrepostas todas as demais.
Parecendo também corresponder a um momento mais remoto, pois encontram-se por baixo de todas as outras, estão figurações a vermelho escuro – círculos, semicírculos e linhas, podendo corresponder a uma representação única de grandes dimensões.
Seguem-se figurações a branco sujo e acinzentado, com pigmento muito espesso e grosseiro de zoomorfos e alguns símbolos simples, de cariz geométrico, sobre os quais estão representações, num branco amarelado, de antropomorfos com grande dinamismo, expressando a ideia de movimento, eventualmente ser contemporâneas das figuras em vermelho tijolo, tendo em conta a sequência estratigráfica. 
À última fase correspondem as pinturas em branco puro representando antropomorfos, sendo que um aparece com uma arma de fogo, zoomorfos de perfil e a representação de um quadrado.
A pala apresenta pequenas figurações esquemáticas em vermelho escuro, muito patinado – um antropomorfo esquemático, duas figuras indeterminadas compostas por traços grossos e outras duas compostas por traços finos, mais figurativas. Estas representações, juntamente com os círculos em vermelho escuro da cavidade anterior parecem corresponder à fase mais remota que se consegue identificar.
Há ligeiramente menos que uma centena de figuras.

Aldeia do Caiombo.


Abrigo do Caiombo.

Na  entrada do abrigo.

Algumas das pinturas rupestres do Caiombo.

Algumas das pinturas rupestres do Caiombo.

Algumas das pinturas rupestres do Caiombo.

domingo, 29 de setembro de 2013

DIVULGAÇÃO


  • Publicações






  • Encontros científicos nacionais e internacionais





  • Junto da comunidade local



  • Preparação de um curto documentário








sábado, 28 de setembro de 2013

AS PESSOAS

A equipa foi sempre muito bem recebida pelos amáveis e simpáticos habitantes do Ebo.
Alguns dos jovens chegaram mesmo a participar no trabalho de campo.
Todos adoravam ficar nas fotografias, por isso fica aqui prestada uma singela homenagem como forma de agradecimento pela hospitalidade e colaboração.




sexta-feira, 27 de setembro de 2013

EQUIPA


Ana Paula Gomes.Foto: Cristina Martins.

Ana Roque.Foto: Cristina Martins.

Avelino Zua.Foto: Cristina Martins.

Cristina Martins. Foto: Ana Roque.

Hipólito Collado. Foto: Cristina Martins.

João Katchicondala.Foto: Cristina Martins.

Luiz Oosterbeek. Foto: Cristina Martins.
Manuel Gutierrez. Foto: Cristina Martins.



Maria Helena Benjamim. Foto: Cristina Martins.

Paulo Valongo.Foto: Cristina Martins.

Pierluigi Rosina. Foto: Cristina Martins.
Prazeres Seralo.Foto: Cristina Martins.

TRABALHO DE CAMPO

Os trabalhos de campo foram divididos em três etapas: a 1ª campanha decorreu Maio de 2011, a 2ª em Maio e Junho de 2012 e a 3ª em Junho e Julho de 2013, envolvendo investigadores portugueses (IPT, ITM,UTAD, IICT) e angolanos (MNAB e INPC).
Os objectivos do trabalho passavam, em termos gerais, pela prospecção, nomeadamente das áreas adjacentes aos abrigos e  pela documentação - mapeamento e registo da arte rupestre, sondagens e recolha de elementos etnográficos da região.


Várias etapas do trabalho de campo. Fotos: Cristina Martins e Luiz Oosterbeek.

Materiais de superfície. Foto: Cristina Martins.

Alguns materiais provenientes da sondagem do Dalambiri. Foto: Cristina Martins.


Recolha de elementos etnográficos. Foto: Cristina Martins.






quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O PROJECTO

A investigação arqueológica em Angola remonta ao século XIX, com as primeiras publicações em 1890 (Severo, 1890).
No domínio da arte rupestre, a descoberta de novas estações e o emprego de novas metodologias de registo, de análise e datação, inserem-se, no presente projecto, numa perspectiva que privilegia não apenas uma documentação exaustiva dos sítios mas, também, a compreensão do seu contexto cultural e paisagístico.
O Projecto Ebo foi, nestes termos, o primeiro grande estudo efectuado para a região, reunindo pesquisadores de diversas especialidades, embora tendo a arte rupestre como núcleo, orientado para a compreensão da dinâmica social e cultural da região, associada às mudanças da paisagem.
Os objectivos específicos foram estruturados segundo o objectivo geral de retomar a pesquisa arqueológica em Angola em cooperação com as entidades nacionais competentes.
Para o Ebo a documentação anteriormente existente era quase nula, não existindo qualquer estudo monográfico para a região, pesem embora as menções de Carlos Ervedosa no seu monumental trabalho sobre a arqueologia angolana (Ervedosa 1980).
Assim, o projecto foi orientado para estudar uma região brevemente referenciada nos anos 1970, mas nunca estudada em pormenor – a região do Ebo, um município da Província do Kwanza Sul, em Angola – assumindo como bases materiais o conjunto de abrigos com pinturas rupestres já noticiados e como métodos o seu registo exaustivo (em fotografia e desenho), o seu processamento laboratorial com identificação de motivos, temas e cenas, e a sua contextualização topográfica, geomorfológica, paisagística e antropológica. Os resultados que se foram obtendo foram objecto de disseminação académica (através de artigos científicos) e social (contribuindo para a formação de uma consciência crítica sobre a profundidade histórica dos lugares e sobre a importância da preservação patrimonial).
O projecto foi cumprido no plano estratégico. No entanto, tratando-se de uma vasta área e tendo sido esta muito afectada durante o período da guerra, existem ainda hoje áreas interditas, por suspeita de minas, pelo que não foi possível visitar todos os locais em relação aos quais temos referências dos habitantes locais como possuindo arte rupestre. Os trabalhos de campo foram divididos em três etapas: a 1ª campanha decorreu Maio de 2011, a 2ª em Maio e Junho de 2012 e a 3ª em Junho e Julho de 2013.

 Breve História da Investigação Arqueológica no Ebo
Carlos Ervedosa e Santos Júnior desenvolveram, em Angola, vários trabalhos em conjunto. O Ebo foi um dos locais que visitaram, fazendo sumárias anotações sobre os abrigos da Quingumba (o Cavundi Quizólo e o Quissanga Cuanga Quissanga), da Cumbira, do Caiombo e de Dalambiri, referenciados por Santos Júnior em poucas linhas no seu trabalho “Arte Rupestre de Angola” (1974), e de forma mais pormenorizada em algumas páginas da “Arqueologia Angolana” (1980) de Ervedosa. Este autor descreve resumidamente as pinturas dos abrigos visitados, indicando a existência de materiais de superfície (fragmentos de cerâmica, líticos e escórias de ferro).
Não termina a descrição sem manifestar o desejo de voltar ao Ebo, reconhecendo que é uma zona que merece um estudo exaustivo. Esta visita aconteceu em 1972. Entretanto, a guerra forçou a ida de Ervedosa para Portugal, impedindo-o de cumprir aquela vontade.
É ainda naquelas páginas escritas por Ervedosa que ficamos a saber que o Arquitecto Fernando Batalha, à época responsável pelos Monumentos em Angola, após ter conhecimento dos abrigos com pinturas do Ebo, decidiu fazer uma escavação num deles, no Abrigo de Dalambiri, em finais 1971/início de 1972. O espólio resultante dessa escavação terá ido para a fortaleza de Massangano (Ervedosa, 1980), mas perdeu-se-lhe o rasto. Somando a isto o facto de Fernando Batalha nunca ter publicado algo sobre este trabalho, perdeu-se toda a informação dessa intervenção.
Foi, no entanto, pela mão daquele mesmo arquitecto que surgiu a apresentação da proposta, em Julho de 1974, para classificar o Abrigo de Dalambiri. A proposta foi aceite e aprovada. Dalambiri é monumento nacional pelo decreto nº110 – Boletim Oficial nº256 de 4 de Novembro de 1974. Este abrigo é o maior da região, com maior número de figuras (superior a 1 milhar).

As referências efectuadas por Ervedosa sobre o enorme potencial arqueológico aliado à inexistência de qualquer estudo sobre a região estão na génese do “Projecto Ebo” (Martins, 2008; Oosterbeek & Martins, 2011).



        

A REGIÃO


  

                                            Localização do Ebo, Kwanza Sul, Angola.

           O município do Ebo, na Província do Kwanza Sul, em Angola, tem 2191 km2 e 182 707 habitantes. Trata-se de uma zona de terras altas subplanálticas, onde o relevo apresenta uma altitude que varia em média entre os 1000 m e os 1500 m, marcado por rochas ígneas ou eruptivas, que emergem sobre a forma de maciços granitóides, por vezes, inselbergs.


Paisagem do Ebo.

O município possui uma rede hidrográfica muito rica, estruturada em torno do Rio Queve, para além de inúmeros riachos e ribeiros, o que contribui para a grande fertilidade agrícola dos solos e desenvolvimento da actividade piscatória (decisivos para abastecimento de Luanda em períodos de escassez).
Os solos desta região, associados a este substrato, são ferralíticos e paraferralíticos.
No Ebo, comunidades, arte rupestre, território, testemunhos materiais e imateriais encontram-se interligados, constituindo, no seu todo, uma complexa paisagem cultural, com inúmeros abrigos pintados onde foram encontrados materiais líticos, cerâmicas e escórias de ferro, à superfície.
   Dispersos pela paisagem desta província estão, também, peculiares construções sepulcrais, os túmulos dos Sobas (chefes das aldeias) ou de outros notáveis da comunidade, construídos com pequenas pedras acamadas sem argamassa, encimando morros graníticos.

          
                                              
Túmulos


As casas  são feitas de adobe.Os tijolos de adobe são produzidos no próprio local e secos ao sol durante cerca de 10 dias, sendo virados a cada 2 dias. São tijolos de terra crua, água e palha, moldados em formas num processo totalmente artesanal. O telhado é de colmo, por vezes, substituído por chapas de zinco. Cada casa é constituída por várias pequenas casas (cozinha, quartos, arrumos, etc.).


 Preparação de tijolos na aldeia Dalambiri.

Casas da aldeia da Cumbira.